segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

O medo líquido, deve ser enfrentado!

Na antiguidade, o medo era conhecido: a escuridão. Por ocasião da falta de iluminação pública, que não existia obviamente, os perigos de sair à noite assombravam as pessoas daquela época, seja por temerem a assaltos, assassinatos ou estupros, seja por temerem a fantasmas ou almas penadas.


"'Medo' é o nome que damos a nossa incerteza : nossa ignorância da ameaça e do que deve ser feito – do que pode e do que não pode – para fazê-la parar ou enfrentá-la, se cessá-la estiver além do nosso alcance." (BAUMAN, Zygmunt. O Medo Líquido. Tradução Carlos Alberto Medeiros. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editora, 2008, p.7).

O medo sempre pululou a mente das pessoas. Ele, entretanto, mantém vivos os seres humanos que buscam agilizar táticas e estratégias com o intuito de minimizá-lo ou vencê-lo. 

O ser é o ser preocupado, jogado na existência e o medo faz parte dessa preocupação humana na sua jornada existencial. 

É natural e até saudável sentirmos um pouco de medo das situações e circunstâncias que nos cercam, o que prejudica nossas vidas é o excesso de pânico. Ele traz uma ansiedade descomunal, originando a "moderna" doença da depressão.


Ocorre que, hodiernamente, o medo se compagina com a liquidez das relações humanas, cada vez mais frágeis e com poucos significados.

O medo líquido é aquele enfrentado pela geração recente, por ocasião da velocidade, do enorme volume de informações e da dependência extrema da tecnologia.

O que parece certo hoje, amanhã não é mais. A velocidade com que as coisas modificam-se e com a qual a informação toma corpo, produziu pessoas doentes imersas em um mar de desespero fóbico.

Viver tornou-se um pesadelo para esses tais, porquanto não enxergam mais a beleza da vida. O mecanicismo e o tecnicismo fez de pessoas normais, acéfalas de senso crítico.

O contraponto do mundo hodierno é esse, quanto mais a tecnologia avança e a informação se difunde, menos se conhece e se consegue vencer obstáculos que se agigantam a cada dia, tornando a vida muito mais difícil.

O medo líquido corrobora com esse mundo novo, da espionagem, da fragilidade das relações, do controle mental, etc.

O que seria o medo líquido? 

Praticamente, tudo o que se nos apresenta pode nos tornar fóbicos, em virtude da pouca certeza que temos do amanhã. Antes a certeza parecia algo concreto. A partir da inclusão nesse meio tecnológico e volátil, não há mais falar-se em certezas. A não ser a morte que é termo (evento futuro e certo).

Como enfrentar o medo?

A única alternativa de vencer o medo é encará-lo, enfrentá-lo e vencê-lo. Algumas pessoas tidas como medrosas, venceram seus medos com facilidade quando postas às situações que as atormentavam.

"Bizarro, embora muito comum e familiar a todos nós, é o alívio que sentimos, assim como o súbito influxo de energia e coragem, quando, após um longo período de desconforto, ansiedade, premonições sombrias, dias cheios de apreensão e noites sem sono, finalmente confrontamos o perigo real: uma ameaça que podemos ver e tocar. Ou talvez essa experiência não seja tão bizarra quanto parece se, afinal, viermos a saber o que estava por trás daquele sentimento vago, mas obstinado, de algo terrível e fadado a acontecer que ficou envenenando os dias que deveríamos estar aproveitando, mas que de alguma forma não podíamos – e que tornou nossas noites insones(...). Todos nós já ouvimos histórias de covardes que se transformaram em intrépidos guerreiros quando confrontados com um “perigo real”; quando o desastre que tinham esperado, dia após dia, mas em vão tentavam imaginar, finalmente ocorreu. O medo é mais assustador quando difuso, disperso, indistinto, desvinculado, desancorado, flutuante, sem endereço nem motivo claros; quando nos assombra sem que haja uma explicação visível, quando a ameaça que devemos temer pode ser vislumbrada em toda parte, mas em lugar algum se pode vê-la." (BAUMAN, Zygmunt. O Medo Líquido. Tradução Carlos Alberto Medeiros. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editora, 2008, p. 6-7).

Em síntese, não podemos nos enredar nas teias do medo sem antes enfrentá-lo e tentar vencê-lo, pois aos homens foi dada a capacidade de vivenciar as situações e buscar vencê-las. Não há necessidade de imaginá-las antes que aconteçam (antecipar-se ao medo), mas sim de vivenciar a fobia e de se planejar contra a mesma com antecedência, posto que o medo imaginado é bem pior do que o vivenciado, em decorrência de "monstros" que criamos e nem imaginamos que fomos nós que os alimentamos.       

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