segunda-feira, 23 de abril de 2018

O Homem Cordial, Bovarismo Brasileiro e o Mito do Ser Superior!

O brasileiro é uma figura sui generis. Sua característica peculiar, aduzida por Sérgio Buarque de Holanda, em Raízes do Brasil, marcada pela cordialidade e "jeitinho", reflete a máxima bovarista que faz parte do imaginário do nacional, o qual ludibria-se como ser superior, em um mundo cada vez mais impessoal.

A carapuça serviu ao propósito de demonstrar uma capacidade inata ao nacional, a de esconder deficiências e enaltecer qualidades que sequer possui para demonstrar. O brasileiro é assim, figura cordial, trapaceira, corrupta, que confunde a casa com a rua (Roberto da Matta), o público com o privado, estendendo a intimidade para a comunidade.

A cordialidade aqui junta-se à capacidade de ser corrupto, de usufruir do que é de todos. Um particular que endossa a ideia do "jeitinho", fulcrado no sentimento de possuir. Um sentimento bovarista, em referência a uma autoimagem deturpada da realidade.

Brasileiros pensam ser pessoas grandiosas e admiráveis, seres superiores. Não é à toa que dizem que "Deus é Brasileiro". Um mito a ser eliminado de mentes incultas, porquanto o Brasil é um país fracassado em aspectos como: saúde, educação, política e etc. 


A ilusão inculcada não é recente. Desde que o país foi colonizado e proclamado reino unido a Portugal, imagina-se, sem sucesso, contudo, que vivemos num país tropical, abençoado por Deus, bonito por natureza, uma colônia quase metrópole ou seria melhor que a metrópole?

A imaginação do tupiniquim é a de que somos um país do futuro, de que em se plantando, tudo se colhe e vários outros conhecimentos vulgares que permeiam o imaginário do nacional.

Quais são os culpados dessa mitomania, desse bovarismo, dessa ilusão contrastante entre o querer e o poder?

Acusa-se que tais mitos tenham sido criados pelas peculiares características dos nacionais miscigenados que encontraram em terras além-mar, um ambiente propício ao apadrinhamento, à pessoalidade, em detrimento da administração pública impessoal. 

Fato que começou com a distribuição de títulos de nobreza a quem pudesse pagar, logo após a chegada de D. João VI ao país em 1808.

Nesse sentido, diversamente do que ocorreu nos EUA, por exemplo, aqui não se prega a conquista, mas sim a concessão. Direitos não foram conquistados no Brasil, mas sim concedidos. Reflexo do bovarismo. Pensamos que somos um país democrático e voltado para o bem comum. A Constituição também prega isso, contudo não acontece dessa forma. 

O que ocorre é a confusão do patrimônio público com o privado, do espaço público com o privado, do pensamento público com o privado e por aí vai.

A frustração é tão grande que já há pessoas querendo sair do país. Aos que são descendentes de portugueses em linha reta até o terceiro grau, estes podem requerer a nacionalidade portuguesa. Assim é o Brasil, um país com grandes perspectivas, só que bovarista*.

*Fonte: wikipédia. Em termos psicológicos, o bovarismo consiste em uma alteração do sentido da realidade, na qual uma pessoa possui uma deturpada autoimagem, na qual se considera outra (de características grandiosas e admiráveis), que não é. Em termos mais gerais, o bovarismo faz referência ao estado de insatisfação crônica de um ser humano, produzido pelo contraste entre suas ilusões e aspirações (que geralmente são desproporcionadas tendo em conta suas próprias possibilidades) e a realidade frustrante. Pode ser caracterizada como uma forma de mitomania.
Essa designação de uma condição psicológica foi introduzida pelo filósofo francês Jules de Gaultier, em seu estudo Le Bovarysme, la psychologie dans l’œuvre de Flaubert(1892), no qual se refere ao romance Madame Bovary de Gustave Flaubert, de 1857, principalmente em sua protagonista, Emma Bovary, que se converteu no protótipo da insatisfação conjugal. Ainda que o termo "bovarismo" não seja reconhecido por alguns dicionários, este possui um uso relativamente frequente em obras ensaísticas, além de figurar em dicionários de psicologia