terça-feira, 24 de agosto de 2010

A Coisificação do Ser Humano e o Processo Valorativo

No processo evolutivo, o homem passa por transformações e necessidades decorrem dessa evolução, fazendo com que os valores se traduzam em realizações. Nesse contexto, as realizações humanas decorrem de marchas de valores próprias do meio social. Não obstante a esse desenvolvimento valorativo, pelo qual passa o homem, vivencia-se hoje uma verdadeira crise de identidade na esfera da consciência coletiva, posto que o ser humano é visto mais pelo que possui, em bens materiais, do que pela contribuição ao progresso do meio onde vive.

A evolução é o incontestável processo valorativo da alienação. Em meio a pandemônios tecnológicos e midiáticos, o homem vai sendo moldado na cultura do consumo desenfreado, dos eletrodomésticos, do capitalismo “selvagem” e da “loucura”. Nesse clima de “evolução”, a humanidade foi retirada do ser. Como queria Heidegger, o ente não se confunde com o ser, mas o ser ou o ser-aí (homem) é ambientado nessa nova formatação do ente que não se preocupa com o outro, seria o subjetivismo ao extremo, como se o ser fosse “jogado” na existência e por isso demandaria o atendimento das suas necessidades, das mais básicas para as mais complexas, como na escala de Maslow que teorizou sobre a motivação dos empregados no ambiente organizacional. 

A velocidade e o mundo de informações estão acessíveis em tempo real, porém o homem não passa de um “grão de areia” no meio da multidão. Não consegue assimilar a “fantástica fábrica de fazer gênios”, por aí se vê a necessidade comandando a realização do homem, posto que a única razão do trabalho passou a ser a sua própria subsistência. Assim, a humanidade foi subtraída do meio laboral dando lugar à mecanização da produção. Nesse sentido, o processo de valorização e de realização do ser humano encontra-se prejudicado, posto que a razão orbita em torno do consumo e da economia de mercado, relegando a segundo plano o indivíduo.

Por isso, as realizações humanas decorrem desse processo de valorização da tecnologia em detrimento do próprio indivíduo. Elas desenvolvem-se nas sendas de valores culturais desse ambiente tecnológico “frio” e desinteressado com o alter (outro). São míopes, pois não conseguem visualizar a finalidade das tarefas. Não há razão para o que é realizado, simplesmente deve ser feito. Os valores do mercado de trabalho são marcados pelo imediatismo, pelo tecnicismo e pela valorização do trabalho, não do trabalhador, em desencontro com o seu objetivo que deveria ser a satisfação do homem enquanto parte da sociedade em que vive e enquanto operário dessa alienação laboral. Não há mais nas relações de trabalho a figura da dignidade, como na frase: “o trabalho dignifica o homem”. Os baixos salários e as péssimas condições laborais refletem no descontentamento dos empregados, nas greves e, por fim, nas demissões de milhares de funcionários. Os valores da sociedade moderna se inverteram em desfavor do indivíduo, posto que não é mais considerado como tal, mas foi rebaixado à condição inferior da condição de ser humano, em razão da existência de grande parcela da população que vive abaixo da linha de pobreza e que sofre da fome.

Nesse contexto, de uma economia voltada exclusivamente para o capital, o desenvolvimento do ser humano não possui valor, posto que não é encarado como gente, mas como “coisa”. É a “coisificação” do ser humano, onde o mesmo somente possui identidade no meio social enquanto possui bens materiais. Somente é aceito em sociedade se possui ou é proprietário de “coisas”. Essa visão mesquinha acerca do ser humano roubou sua identidade. Não há mais que se falar do conhecimento como fonte de poder. O valor aceito agora pelo meio social é a quantidade de bens que se tem e não mais a localização do homem como ser pensante e modificador desse meio.

Em resgate à humanização do ser humano e à sua qualidade essencial deve ser feita uma disseminação do pensamento filosófico, na medida em que, como “parteiro de almas”, o engajado nesse sentido terá condições de desnudar o mundo exterior que foi obnubilado pela escuridão da modernidade e da velocidade. É preciso parar e refletir acerca do outro, bem como aos ensinamentos sábios como os da visão cristã de que devemos “amar ao próximo como a nós mesmos e a Deus sobre todas as coisas”. As “coisas” são objetos úteis, porém não garantem qualquer recompensa que realmente satisfaça ao homem.

É o que penso!
Carlos Ilha

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