quinta-feira, 14 de março de 2019

A Mania do "vencedor", as relações de consumo e o tempo!

Estamos conformados em um mundo que exige a vitória sobre os desafios que nos são apresentados para que possamos nos encaixar nos padrões sociais que nos são impostos.

Devemos ser consumidores, porque as relações entre indivíduo-indivíduo ou indivíduo-coisa exigem que adquiramos algo por algum valor. Como bem explicita Ney Moura Teles em seu livro: Direito Penal, Volume 1, São Paulo: Atlas, 1998, o simples fato de acender a luz pela manhã já caracteriza que temos uma relação jurídica com alguém e estamos sob a égide do direito, temos uma obrigação: pagar a conta de luz!!!

Não é terrível que a quase totalidade das relações que estabelecemos diariamente tenha a ver com gastar dinheiro ou consumir algo que nos custe?

Sempre gastamos algo. O tempo que também é dinheiro, na visão de muitos, como Felipe Pondé, parece algo tão artificial que sequer conseguimos entender como isso funciona.

Como posso transformar meu tempo em dinheiro? São relações muito complexas, haja vista que o simples fato de respirar já nos faz consumir tempo, estaríamos assim perdendo dinheiro ou tempo?

Precisamos pensar sobre essas coisas: ser um vencedor, senão você é um fracassado e não se encaixa no padrão social, não presta para a vida em sociedade; consumir algo ou gastar algo, porque o direito a não consumir, praticamente inexiste ou é muito mitigado; e o tempo como sinônimo de dinheiro.

Qual é o lugar do homem em todas essas coisas? Seria ele um escravo delas? Um ser narcisista que necessita estar sempre no topo da vida para ser, já que ser é ser reconhecido, no campo da Sociologia?

"Vida para o consumo", esse é um título de um dos livros de um grande escritor que se foi, mas seus pensamentos permanecem muito vivos. Zygmunt Bauman ilustrou bem o que vivenciamos cotidianamente. Seria essa vida uma vida de fato ou só artificial? Consumir por consumir sem precisar, como nas campanhas publicitárias que criam uma necessidade para nós, mas que é uma grande mentira, como no seriado Mad Men: Inventando a mentira! Este é um seriado espetacular, quem tiver a oportunidade, assista. 

É um retrato de nossa sociedade esse seriado, retrata fatos que remontam ao século passado, mas que permanecem tão vivos quanto nós seres que ainda respiramos neste velho mundo. Só o que falta é pagarmos pelo ar que respiramos, como na ficção "O Vingador do Futuro" em que o povo deve pagar tributo para ter o direito de respirar o ar em Marte, caso contrário, ele é cortado ou como no desenho infantil "Lorax", em que o "ar" é vendido por O' Hare, o vilão, em garrafas de vidro.   

O consumo deixou de ser conforto e passou a nos escravizar e nos pressionar ainda mais. Somos sufocados por tantas coisas que ao nem menos sabemos para que servem e porque foram introduzidas em nosso cotidiano.

Posicionando-se na dianteira das coisas que nos escravizam vem o tempo. Implacável e temível. Há filósofos que dizem não ser uma ficção, uma convenção humana, mas sim dinheiro.

Penso ser difícil pensar no tempo desta maneira. Ele é valioso sim, mas não na perspectiva financeira. Não necessariamente devemos possuir tempo para que façamos dinheiro (erradamente dito, ganhar dinheiro. Ninguém ganha dinheiro, sempre há um custo por conta desta moeda de curso forçado que é necessária ao sistema de trocas sofisticado do nosso século).

Nessa mesma linha de raciocínio segue o rol das exigências modernas. São tantas e tamanhas que qualquer pessoa enlouquece ou se frustra facilmente, mesmo aqueles que ocupam os primeiros lugares na existência, os vencedores e campeões. Não é à toa que muitos, mesmo os mais famosos ou ilustres, estão a se desentender com a vida, entristecidos em seus relacionamentos conjugais ou laborais. Deprimidos?

Vivemos em uma sociedade depressiva sim. Um ambiente que favorece a pensamentos muito destoantes dos coloridos dos filmes de cinema ou dos seriados da Netflix. Há algo bastante errado com as relações que estabelecemos neste mundo.

"Uma sociedade que não estimula a interiorização, que ama os holofotes da mídia, que valoriza somente quem atinge o pódio, que louva excessivamente quem é premiado, pode ser saudável? Não, pois apenas uma pequeníssima minoria atinge esses patamares!" (CURY, Augusto. O Código da Inteligência: a formação de mentes brilhantes e a busca pela excelência emocional e profissional. Rio de Janeiro: Thomas Nelson Brasil/Ediouro, 2008, p. 190).

Relações jurídicas só se estabelecem com pessoas, mas parece que em um futuro próximo, estaremos estabelecendo relações jurídicas com coisas também, porquanto a robótica avança a cada dia. Será que seremos capazes de nos conformar a essa nova realidade?

O certo é que o mundo evolui (ou involui), o tempo passa, o tempo voa, mas a "Poupança Bamerindus" não continua numa boa, porque já foi consumida faz tempo pela necessidade de gasto e nos tornamos muito infelizes, mesmo sendo vencedores! 

Nenhum comentário:

Postar um comentário