terça-feira, 22 de junho de 2021

Poço dos Desejos Indesejáveis!

O problema de se desejar o que é indesejável está ligado à falta de bom senso das pessoas, posto que tais desejos podem agir contra o que almeja algo que não pode ter ou alcançar. Desejar o que não se pode ter é o mesmo que lamentar o que se é!

As pessoas não são iguais. Decididamente, são diferentes em vários aspectos. Enquanto uns estão a lamentar por não poderem desfrutar da vida do jeito que querem viajando, "luxando" e despertando inveja nos outros, curtindo os "beijos da deusa", com seus desejos caóticos de se sentirem poderosos, outros estão a desejar "o rabo (de baleia, deusa) pra ceia", no paradoxo escondido na areia (alusão a uma música de Gilberto Gil, "A Novidade")!

Não é novidade, entretanto, que toda essa desigualdade faz parte do ser humano que deseja o que não deveria. O indesejável é ver os outros comendo o "pão que o diabo amassou". Contudo, há algo tão estranho nas pessoas. São poços de desejos indesejáveis buscando mostrar poder, onde não é possível demonstrá-lo, posto que o combalido, o caído na existência, não possui forças para medir!

"Tudo é tão desigual... de um lado esse carnaval e de outro a fome total", aonde isso vai parar? Será que os povos oprimidos de outrora, em priscas eras, pensavam invejosamente em ter o que seus opressores possuíam ou apenas desejavam ter o que comer, beber, vestir e possuir um lugar para morar?

Obviamente, quem está por baixo não tem sequer pensamentos luxuosos, por não se achar merecedor disso. Se alguém vem de baixo e adquire riqueza rapidamente, pode ser que se suicide, tal como afirma Durkheim em o seu "O Suicídio". O suicídio anômico:

"Qualquer ser vivo só pode ser feliz, e mesmo viver, se as necessidades que sente estiverem suficientemente de acordo com os meios de que dispõe. Caso contrário, se os seres vivos exigem mais do que lhes pode ser dado ou, simplesmente, exigem outra coisa, terão sempre uma sensação de insatisfação e não poderão agir sem sofrimento. Ora, um movimento que não se pode realizar sem sofrimento tende a não ser repetido. As tendências que não encontram satisfação atrofiam-se, e como a tendência para viver é a resultante de todas as outras, não pode deixar de enfraquecer se as outras definham.

No animal, pelo menos em condições normais, esse equilíbrio se estabelece com uma espontaneidade automática, porque depende de condições puramente materiais(...). Mas o mesmo já não acontece com o homem porque a maior parte de suas necessidades não dependem do corpo, ou, se dependem, é em diferentes graus(...). Assim, quanto mais tivermos, mais queremos, satisfações obtidas estimularão as necessidades em vez de acalmar (...). Nessas condições, só estamos ligados à vida por um fio muito fraco que está sempre em risco de se partir". (DURKHEIM, Émile. O Suicídio. 1 Reimpressão, São Paulo: Martin Claret, 2008, p. 265-268).   

O poço dos desejos indesejáveis se apresenta neste diapasão porque os seres humanos são insaciáveis, sempre desejam o que não deveriam ou poderiam desejar, "(...) é necessário que as paixões sejam limitadas (...). Sujeitos a essa pressão, cada um em sua esfera, tem uma vaga noção do ponto máximo que suas ambições pessoais podem chegar, e não deseja mais nada que esteja além. Se, pelo menos respeita a regra e é dócil para com a autoridade coletiva, isto é, se é dotado de uma constituição moral sã, sente que não deve exigir mais. Define-se, desse modo, um objetivo e um limite para a suas paixões" (Idem, p. 268-269).          

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