quarta-feira, 14 de outubro de 2015

D. João VI e a sua importância para o Brasil

Estou a ler um livro muito interessante, 1808 de Laurentino Gomes, editora Planeta, 4° edição, 2007. 

O autor coloca como ponto central a figura de D. João VI, um príncipe regente, feio, supersticioso e obeso que comia franguinhos, nos intervalos entre as refeições e que odiava a sua mulher Carlota Joaquina, também uma mulher tremendamente horrenda e que conspirava contra o seu marido. 

As histórias sobre essas figuras do império e a sua importância na abertura comercial do nosso país denotam que D. João VI, muito mais do que uma pessoa com defeitos e sem caráter, foi responsável por sermos o que somos hoje.

Claramente, a corrupção daquela época se faz notar nos dias de hoje, por isso é importante verificar essas caricaturas de outrora para podermos nos identificar. O "jeitinho brasileiro", descrito por Sérgio Buarque de Holanda, da "sobranceria" do brasileiro, avesso ao trabalho, afeiçoado à "malandragem" e ao engodo. 

Somos nós, temos de ter orgulho de nossa sobranceria e não negá-la, como '"homens cordiais", por ocasião de nos conferir originalidade, mesmo que não nos adequemos aos padrões europeus ou norte-americanos, não queremos ser essas figuras de além-mar.

Temos de ter orgulho não de nosso país, mas de nosso jeito, único e original.

Com justa razão, D. João fugiu de Napoleão em virtude de seu medo, o que lhe conferiu mais tempo de vida e um reinado que modificou o nosso país colônia há pouco mais de 200 anos quando da chegada família real que organizou as administração desse país. Certamente, devemos muito à família real portuguesa que, se decidisse enfrentar os franceses, não seríamos o que somos hoje. Talvez, nem Estado soberano seria o nosso país atualmente.

D. João VI fez muito pelo Brasil. A nossa soberania deve a ele um reconhecimento de destaque, mesmo que se diga que ele era uma pessoa sem asseio e sem caráter, mas uma coisa deve ser lembrada, o nosso país segue culturas multifacetadas, graças a abertura dos portos da época em que a família real veio ao Brasil, em 1808.

Caso D. João VI não viesse em fuga de Portugal ao Brasil, sequer teria elevado o nosso país à condição de Reino Unido a Portugal e Algarves, tendo o Rio de Janeiro como a sede oficial da Coroa.

"Nenhum outro período da história brasileira testemunhou mudanças tão profundas, decisivas e aceleradas quanto os treze anos em que a corte portuguesa morou no Rio de Janeiro. Num espaço de apenas uma década e meia, o Brasil deixou de ser uma colônia fechada e atrasada para se tornar um país independente. Por essa razão, o balanço que a maioria dos estudiosos faz de D. João VI tende a ser positivo, apesar de todas as fraquezas pessoais do rei. (...) 'Com ele começou a descolonização efetiva' (...). 'Não só pelo ato de elevar o Brasil a reino, mas também, e sobretudo, por lhe dar desde logo e em breve espaço de tempo as estruturas de uma nação propriamente ditas'".(GOMES, LAURENTINO. 1808:como uma rainha louca, um príncipe medroso e uma corte corrupta enganaram Napoleão e mudaram a história de Portugal e do Brasil. São Paulo: Editora Planeta do Brasil, 2007, p. 284). 

Nem o comércio, as artes e a cultura seriam o que são hoje. Graças ao rei D'além Mar podemos dizer que somos um país independente, com poder de influência considerado na América Latina e com uma constituição impressionante e bela, mesmo que se diga que é uma "colcha de retalhos", porém, a nossa República Federativa é uma união indissolúvel de estados, municípios e distrito federal, com poderes independentes e harmônicos entre si. Fato que sem a vinda de D. João, o Estado-nação Brasil, um país continental, poderia ter sido fatiado em três diferentes países.(Ibidem, p. 287).

Nesse sentido, "(...) não se deve subestimar a importância de D. João VI na construção da identidade dos brasileiros de hoje. É preciso levar em conta que, dois séculos atrás, a unidade política e territorial do Brasil era muito frágil." (Ibidem, p. 286).  

A nossa prolixa constituição deveria ser motivo de orgulho, haja vista as conquistas jurídicas desses pouco mais de duzentos anos transcorridos, em que a família real portuguesa esteve em nosso país. Um pontapé sem o qual não haveria falar-se em direitos e, muito menos, em liberdades como as conhecemos.  

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