terça-feira, 3 de abril de 2012

A COISIFICAÇÃO DO SER HUMANO E A ARROGÂNCIA DO REGIONALISTA

Volto a escrever sobre a coisificação do ser humano, por ocasião de, recentemente, presenciar o quanto as pessoas ditas "normais" podem se tornar doentes por se confundirem com as coisas - bens materiais - que possuem nesse plano terreno ou com o trabalho cotidiano que realizam.

Há pessoas que apenas "querem dar o troco" da vida difícil que levaram, como diria Augusto Cury "por detrás de toda a pessoa que fere, há uma pessoa ferida" (CURY, Augusto. O Código da Inteligência: a formação de mentes brilhantes e a busca pela excelência emocional e profissional. Rio de Janeiro: Thomas Nelson Brasil/Ediouro, 2007, p. 172). Triunfalistas, apenas estão a querer ou desejar causar no próximo sentimentos avessos ao que é nomeadamente de bom alvitre. A principal finalidade dos ditos "triunfalistas" é produzir sentimentos de poder como se o seu interlocutor fosse submisso e, como em toda relação em que há jugo, há abusos em todas as esferas.

Entretanto, explica Etienne de La Boétie que, em relação ao jugo,

"(...) uma coisa é certa, porém: os homens, enquanto neles houver algo de humano, só se deixam subjugar se foram forçados ou enganados; enganados pelas armas estrangeiras, como Esparta e Atenas pelas forças de Alexandre, ou pelas facções, como aconteceu quando o governo de Atenas caiu nas mãos de Pisístrates [Pisístrates (600 – 527) foi por três vezes tirano de Atenas. Da primeira vez foi derrubado por Licurgo. Da segunda por Hermódio e Aristogíton. Deve-se, contudo, a Pisístrates a compilação das obras de Homero, como a Ilíada e a Odisséia.]"*.

É possível visualizar nesses seres coisificados um quê de "prêmio" pelo esforço empregado, porém possuir coisas não é suficiente, é necessário que se mostre o que se tem aos que nada possuem, aos despossuídos, para que a relação de poder se estabeleça e a sensação de jugo se concretize no imaginário dos miseráveis de espírito, detentores desse poder virtual. Procuram causar inveja nos que se encontram desfavorecidos**.

O regionalista é arrogante, quer impor sua cultura ao "forasteiro", tenta obrigar à fórceps o seu trejeito estulto de valorizar coisas ou o trabalho em detrimento de histórias de vida, de modo que seu semelhante fique sem jeito, na medida em que se sente constrangido pela coletividade a adotar aquele pensamento. Grande iluminura do pensamento filosófico, Bertrand Russell, afirmou em um dos seus decálogos:  "7.Não tenhas medo de possuir opiniões excêntricas, pois todas as opiniões hoje aceitas foram um dia consideradas excêntricas".

É o que tento empreender aqui. Não tenho medo das opiniões alheias e nem de "pensar diferente" (CURY, Augusto. O Código da Inteligência: a formação de mentes brilhantes e a busca pela excelência emocional e profissional. Rio de Janeiro: Thomas Nelson Brasil/Ediouro, 2007, p. 160), mas tenho fortes argumentos que embasam a minha crítica. Não existem pessoas iguais. As pessoas invariavelmente terão gostos e pensamentos diversos, nada é absoluto. Nas palavras de Bertrand, "1. Não tenhas certeza absoluta de nada". E ainda nas luzes desse brilhante filósofo da matemática, "4. Quando encontrares oposição, mesmo que seja de teu cônjuge ou de tuas crianças, esforça-te para superá-la pelo argumento, e não pela autoridade, pois uma vitória dependente da autoridade é irreal e ilusória. 5. Não tenhas respeito pela autoridade dos outros, pois há sempre autoridades contrárias a serem achadas" (Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Bertrand_Russell).
 
Cultura e pensamento acerca da existência e sua função têm alguma semelhança. A cultura faz parte de um povo, de sua região, alertando que o Brasil é um país multicultural. No mesmo sentido, o pensamento não é uniforme, difere de cultura para cultura, de região para região. Ocorre que a cultura utilizada por determinada região obriga ao alienígena, que se imiscui na mesma, a adotar o seu modo de pensar. Parece-me absurdo que devamos nos inclinar a pensamentos tortuosos que desconstituem as histórias de indivíduos, que apagam suas experiências de vida, como uma borracha que elimina o grafite sobreposto ao papel, em favor de uma "ditadura da maioria".

Sabido que cada pessoa, cada elemento existente na face da terra, possui uma função. Todos têm alguma importância direta ou indireta, mas a arrogância do homem, a sua coisificação e o seu desejo de poder, bem como o de abusar do mesmo, haja vista que passou a detê-lo com o intuito de humilhar ou de se exaltar em si mesmo, são marcas registradas dos regionalistas arrogantes que se subrogam na potestade maldita que impera nessa imensa selva de pedra, em que as relações socias se desenvolvem de maneira bestial.

Lamentável observar que amizades antigas se dissolvam no ar por ocasião da má interpretação e da linguagem mal empregada, da arrogância de pessoas que outrora eram humildes, que se passavam por colaboradores, mas hoje procuram estabelecer essa relação de poder se identificando com as coisas ou com a função/trabalho que possuem, em detrimento dos sentimentos que são mais fortes que qualquer objeto que se possa possuir ou função que se possa exercer.

Em resumo, a arrogância e a ganância do regionalista sobreleva a sua intenção mau-caráter de colocar-se acima do outro, de exercer certa relação de poder coisificado, posto que não pensa no próximo como pessoa, mas como coisa a quem subjuga. Aliás, a coisa e o trabalho conferem a essa criatura o narcisismo essencial para que exista, na esfera do pensamento que julga coerente e compaginado com a boa convivência.

Abraço,


Carlos Gustavo Godoy Ilha
         Ser Humano      


La Boétie, Etienne de. O Discurso sobre a Servidão Voluntária, p.12 (Disponível em:www.culturabrasil.org/zip/boetie.pdf)

** "Inveja ou invídia[1][2] é um sentimento de tristeza perante o que o outro tem e a própria pessoa não tem. Este sentimento gera o desejo de ter exatamente o que a outra pessoa tem (pode ser tanto coisas materias como qualidades inerentes ao ser).

Muitas vezes, se confunde Inveja com Cobiça, que significa querer tirar a tal coisa desejada à pessoa que a tem, fazendo com que ela fique sem ela.

A origem latina da palavra inveja é "invidere" que significa "não ver". Com o tempo essa definição foi perdendo o sentido e começado a ser usado ao lado da palavra cobiça, o que gera, até hoje, cada vez mais confusões e interpretações errôneas.

Os indivíduos disputam poder, riquezas e status, aqueles que possuem tais atributos sofrem do sentimento da inveja alheia dos que não possuem, que almejariam ter tais atributos. Isso em psicologia é denominado formação reativa: que é um mecanismo de defesa dos mais "fracos" contra os mais "fortes".

A inveja é originária desde tempos antigos, escritos em textos, que foi acentuado no capitalismo e no darwinismo social, na auto-preservação e auto-afirmação.

A inveja pode ser definida como uma vontade frustrada de possuir os atributos ou qualidades de um outro ser, pois aquele que deseja tais virtudes é incapaz de alcançá-la, seja pela incompetência e limitação física, seja pela intelectual".(Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Inveja).



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